Espaço prá virar gente…

Escola ÁgoraNão existe mais a rua como espaço público, onde cada criança encontrava os vizinhos, os amigos; os meninos mais velhos, os colegas mais novos; os mais tímidos, os menos envergonhados; os pernas-de-pau e os craques; o companheiro mais rico, o camarada mais pobre. A rua era o lugar de reunião, de identificação com o outro, de se aceitar diferenças, de se construir igualdades, de se compartilhar regras, de se dividir responsabilidades, de se sair do convívio familiar e tornar-se ser social, ou seja, de exercitar a convivência saudável e necessária à construção de nossa individualidade na referência essencial da presença do outro.

Empobreceu a experiência da rua, minguou a relação entre parentes – os grandes clãs, compostas de muitos primos, tios, parentes e, até, agregados, deram lugar a núcleos familiares pequenos, isolados, em que seus poucos componentes mal se encontram no período de um dia…
Sem rua e sem família para enriquecer sua experiência de vida, os alunos também não encontram na instituição escolar tempo e espaço para fazê-lo.

O sítio hostil em que a rua se transformou agrava ainda mais essa falta de possibilidade da criança e do jovem, que são impedidos de iniciar o exercício de ir e vir (à escola, à casa do amigo, à biblioteca etc.), sendo transportados do ponto de partida ao destino por pais ou motoristas, sem nenhuma chance de participar de modo mais ativo, da construção de seus caminhos…

Monitorados, controlados, alguns cumprem agendas extensas, cheias de horários, atividades, obrigações, que os enrijecem precocemente, que transformam sua alegria em ansiedade, sua inexperiência em temor, sua passividade em inércia, seu mísero convívio com diferentes em intolerância desumanizada, seu parco repertório de vivências em falta de visão de mundo…

Terê Fogaça de Almeida

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