Um relatório feito pelo nosso ex-aluno Cristian Sebok

– Tivemos duas comemorações diferentes, para o aniversário de vinte anos da Ágora:

– no dia 11 de março, os alunos de primeira a oitava séries trabalharam juntos, fazendo e confeitando um grande bolo e brigadeiros, e participando de uma “caça ao tesouro” com charadas sobre a história da escola. O relato deste trabalho, completo e com fotos, está em “Feliz Aniversário”, em PROJETOS COLETIVOS.

– no dia 19 de março, recebemos quase cem ex-alunos, alguns de seus pais e ex-professores, numa reunião emocionante, repleta de encontros e recordações. Recebemos um grande presente – um relatório feito pelo Cristian Sebok, formado em 1998, atualmente, aluno do curso de Relações Internacionais na USP:


Cristian

Cristian Sebok | Escola Ágora

Ágora – Escola de 1º Grau
Cotia, 19 de março de 2005.

Quantos anos se passaram, desde a última vez que escrevi, dessa maneira, o cabeçalho… São apenas duas frases, mas que universo de sensações e memórias elas desencadeiam! Como é difícil expressar, em palavras, a vida que jorrou dos sete anos passados aqui.

Pensar na Ágora é pensar em um mundo que minha razão, muitas vezes, duvida que realmente existisse; um lugar paradisíaco onde o tempo caminhava num ritmo eterno, pois eu era inconsciente que ele poderia, um dia, ter fim. Futuro? Era algo tão distante que me cansava pensar nele… Passado? Sinceramente, não havia porque olhar para ele, já que minha mente estava tão ocupada com as novas experiências e descobertas que me oferecia o presente…

Se existisse uma escala de envolvimento, no momento presente, de acordo com a quantidade e a intensidade dos sentimentos e pensamentos envolvidos nas atividades rotineiras, certamente na Ágora – e somente lá – cheguei a cem por cento.

Coisas tão simples tomavam dimensões tão grandes: a alegria em sentir o cheiro da feijoada no almoço; o completo desânimo ao pensar no relatório semanal ainda por escrever; o alívio em terminá-lo; a ansiedade em ler o relatório individual (em especial, antes da quinta série, quando não podíamos lê-lo antes de entregar aos pais); o orgulho expresso por um sorriso inflado quando recebia um elogio escrito pelo professor; a vergonha em receber uma crítica pessoal e direcionada que, por mais que eu não quisesse aceitar, eu sabia da sua dolorosa veracidade; o desejo da morte ao saber que perderia a aula do Mário para fazer a lição que, desgraçadamente, havia esquecido em casa; o súbito ataque avassalador de uma pneumonia, enxaqueca, tosse, bronquite, nas manhãs de segunda-feira, quando a lição de casa não havia sido feita; a sensação de ser desmascarado quando a Terê dizia que estávamos com preguicite aguda; o grande senso de responsabilidade ao saber que era pré-adolescente e fazia parte do grupo de alunos mais experientes de toda a escola; a realização ao receber a tarefa de amarrar os bodes que comiam nosso lanche, pois somente alunos da oitava série tinham capacidade para tal empreitada, que beneficiaria e seria notada por toda a escola; a emoção em apresentar os trabalhos, teatros, músicas, aos meus pais – eu me sentia um verdadeiro astro de cinema, cantor de sucesso, pintor de renome, escritor consagrado, tudo em um só dia; a explosão de felicidade ao marcar um gol no campinho, fazer uma cesta, queimar alguém na queimada, acertar alguém no pega-pega-com-bola, sair do buraco antes de ser pego, bater o recorde no salto em distância e a desolação total em perder um jogo, errar uma bola (e ter que buscá-la lá embaixo, no meio do mato), ser queimado, ficar de próximo; a vontade de voltar no tempo quando, no meio de uma brincadeira (ou de uma lição de casa), ouvia-se a temida palavra, ingenuamente, berrada pelos alunos da primeira à quinta: AULA!

Eu poderia continuar aqui, infinitamente, listando tantos momentos em que nossos sentimentos e pensamentos foram envolvidos ao extremo no maravilhoso “Universo Ágora”. Mas, as palavras nunca seriam suficientes para expressar o que significou (e ainda significa) a experiência vivida nesta simples chácara… A frustração, porém, de não poder compartilhar os anos vividos aqui, hoje desaparece diante da emoção do reencontro.

Caminhos tão diversos nos distanciaram; porém, na magia do “rever”, percebemos que temos uma proximidade única, maior talvez do que em qualquer outro relacionamento, pois uma parte de nossas almas, as crianças em nossas almas, estão unidas para sempre.

Sócrates e seus companheiros gregos, que inventaram a ágora, certamente se orgulhariam desta escola! “


Cristian Sebok

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